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O Homem de Vestido Azul
  
Atirei setas. Não sou cúpido, claro que não! Também não sou arqueiro, nem sequer Robim dos Bosques. Como roubaria os ricos, se nem sei quem são eles? Uns dizem que os ricos são os de lá de cima mas lá em cima só está o Tiroliroliro e olhem que esse é um tipo porreiro.
 Adiante, atirei umas setas e até acertei no alvo. Virei costas ao alvo para olhar a plateia e sorrir. Voltei-me, de novo, para o alvo. E as setas? Pois é, já lá não estavam.
 - Roubaram-mas?
 Ei lá, serei eu os ricos?
 Eram umas setas castanhas, cor do solo.
 - Se calhar caíram ao chão…
 E não é que tinham caído mesmo? Uma rabanada de vento, daquelas que vêm já do Natal, deitou tudo por terra. Para a próxima tenho de lançar com mais força, não é?
 “Ai, e porquê que não compras umas setas mais fortes?” atira a gente para quem um arco é pesado. Então eu vou-vos contar uma história:
 “Era uma vez, foi só uma que é a que me lembro, se calhar foram mais vezes, um homem de vestido azul, ainda bem que não era de fato e gravata, que vendia gelados. Todos os dias, fizesse sol, chuva, frio ou calor, montava a banquinha e lá vendia. O homem era maluco, já conhecia o mundo, e esses que sabem o que ele é verdadeiramente são malucos. Vendia mais gelados no frio que no calor, ‘tá certo, gelados no calor já não são gelados, são possas infelizes que nenhuma criança quer chapejar. Mas o que interessa é o homenzinho, que vendia gelados em cones. Um dia resolveu montar a banca dos gelados, “Gelados Celestino” era o nome, lá perto de um banco, o do dinheiro. Para azar dele, o banco foi assaltado, ladrões mal-educados que nem um geladinho compraram, não é que fosse azar até porque um assalto atrai gente até dar com um pau e isso é bom para o negócio. O homenzinho, que eu deduzi que fosse Celestino, não tenho a certeza, atirou com uns cones aos ladronzecos. Acertou-lhes em cheio! E o Celestino sorriu para os ladrões e partiu. Nem vento, nem picaretas, nem alicates, nem ímanes, nem sequer miúdos esfomeados foram capazes de retirar os cones dos ladrões. E vejam bem, os nossos dentes destroem os cones, por isso é uma coisa fraca, mas suficiente para o Celestino, era a vida dele, ele sabia o que estava a fazer, não era preciso os outros lhe dizerem… Os ladrões foram presos, já estavam presos com os cones, mas foram para uma coisa mais séria… Quanto ao Celestino, não sei, deve andar por aí…”
 Eles lá ouviram a história, aplaudiram. Eu sorri, olhei o chão e parti…

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