O miúdo de Mafra e o outro miúdo
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Era uma vez um miúdo
de 8 anos que vivia em Mafra no século XVIII.
Já lá vão vários dias
em que o rapaz repara que por os campos não se avista ninguém, curioso fica, e
numa brincadeira tenta descobrir a razão de tal desaparecimento. Procurou, até
que encontrou um edifício em construção, era o futuro convento de Mafra mas ele
não o sabia, depressa sobressaiu o amontoar de casas e telheiros, era uma
autêntica cidade no meio do campo. A curiosidade chamava por ele mas o medo
venceu, fazendo-o voltar a casa.
Era uma vez um miúdo
com a mesma idade mas que viva num futuro mais avançado, no mesmo dia tinha uma
apresentação sobre o Brasil, nomeadamente sobre as favelas, outra cidade…
Passados uns tempos o
miúdo de Mafra ouviu uma conversa entre o pai, a mãe e o avô. O pai explicou
que iria estar fora, porque tinham de ir buscar uma pedra a Pêro Pinheiro. E lá
foi. Com escapadelas do miúdo à cidade, o tempo passou. E felizmente, o pai
chegou bem e com histórias para contar. Noticiou a morte de Francisco Marques,
que falhou o calçar do carro dos bois, é que nem o corpo dele chegou para o
calçar. Noticiou também a morte dos dois bois.
Ora na mesma hora,
num futuro mais avançado, o outro miúdo via televisão, porém a emissão foi
interrompida por uma emissão no parlamento. Ninguém merece ser interrompido por
causa daquilo, muito menos uma criança. Os gritos chamaram a atenção dele mas
lá, ao contrário do passado, nenhum morreu!
E o tempo continuou a
passar até um dia em que a porta da casa do miúdo de Mafra foi arrombada. Estavam
lá a mãe, o miúdo e o avô. Entraram homens, num rompante a mãe abraça o filho e
puxa-o contra a parede, não sobrando mais braços à mãe, os homens deram uma
ajuda e abraçaram eles o avô. Levaram-no. Nem a mãe nem o miúdo sabiam o porquê
daquilo se ter acontecido… No final do dia, o pai voltou a casa, e explicou que
o Rei queria a obra pronta dali a dois anos, coisa impossível, então mandou
recrutar todos os homens do reino, contra a vontade deles, para que fossem
trabalhar na obra. Naquele dia o miúdo só chorou, mas o avô não voltou…
Passaram poucos dias e o miúdo que ainda pensava no avô e em como não o
conseguiu salvar. Foi até à cidade da construção do convento, ele sabia que o
avô ali estava…
No futuro mais
avançado, no mesmo dia, o outro miúdo teve uma excursão ao Convento de Mafra.
Maravilhado estava mas numa parede o seu olhar fixou. Era nessa parede, ali,
que um corpo serviu de cimento, vários até mas no local onde ele se fixou havia
só um, um avô de alguém…
A mãe do miúdo de
Mafra procurava o filho para lhe dar a trágica notícia, mas não o encontrou… O
miúdo já estava na cidade, e de peito cheio foi até à obra… Não me perguntem o
que lhe aconteceu, porque eu não tive tanta coragem quanto ele.
Uma coisa é certa: no
dia da inauguração, o miúdo também não viu o Rei, mas verá! Verá quando ele
estiver no palácio a passar as férias, aliás verão o Rei, o miúdo e o avô…
Quanto ao miúdo do futuro avançado, que já nem miúdo deve
ser. Ah, como o tempo passa! Esse tem um coelho, um coelho que já há muito que
ninguém consegue domesticar…Comenta