O Violino
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Quis dar
música. Comprei um violino. Toquei. Partiu-se uma corda. Arrumei-o ali.
E todos os
dias, quando chego a casa, ele olha-me, olha-me com um olhar com desejo mas
diabólico como se dissesse: “Play me to hurt me!”. Ah pois, como boa portuguesa
que sou compro do estrangeiro, não do nacional!
A troca de
olhar quebrou-se quando o telefone tocou.
- Boa tarde! Somos da loja de música, queríamos informá-lo que a partir de hoje temos uma
nova promoção: traga-nos o seu velho instrumento e tem de imediato um desconto
de 50% num novo instrumento à sua escolha.
E olhando
para o violino fez-se silêncio. Do outro lado da linha uma voz disse:
- Está?!
- Não, ninguém está. – disse pausadamente. E o telefone foi desligado.
- Não, ninguém está. – disse pausadamente. E o telefone foi desligado.
Fazia duas
semanas que a corda se partiu. E eu olhei-o e lá lhe fiz a vontade, peguei nele
e toquei-o, toquei-o como nunca antes o tinha tocado. Nunca tinha tocado um
violino com uma corda partida… E todas aquelas notas direcionaram-se para mim,
para o meu coração. Rasgaram-no, sem misericórdia…
Acabo. A
música acabou. Ou meu coração não pode ser mais rasgado. E agora? Agulha e
linhas para remediar! Mas não chego lá… Alguém chegará? Alguém poderá
remediá-lo?
Até lá, o
vento trespassará os rasgos e, finalmente, encontrou-se um par musical para o
quebrado violino…
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