Sem Parágrafos
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Carne viva. Cheira-me a carne viva. Mas como é
possível? Espreito pelo buraco da cortina, pelo buraco feito pelo gato que
tentava escapar por aí, além desta imundice. Não escapou. Lá fora continuava
tudo na mesma, tudo repleto de reflexos… De onde viria aquele cheiro? Será que
haverá sobreviventes? Vagueei pela sala, o relógio continuava a sua melodia,
sem resposta, sem ação, passivo. Tive uma reação súbita de querer parar o
relógio. Voltei a olhar lá para fora, tudo normal, somente os reflexos d’Aqueles.
Enquanto Aqueles não se movimentassem em minha direção, a minha vontade sana nada
temia. Nada temia mas sentia, sentia saudades de o reflexo da luz que nos cega,
correção, que nos permite ver realmente o mundo… Aqueles substituíram esse
reflexo por… sei lá o quê… seres que comem reis mas não fazem a sua digestão e
incham, incham com os reis na barriga. Mas sem Aqueles, eles não são nada,
desconhecem o (sobre)viver… Tenho de saber de onde vem este cheiro, tenho
de encontrar alguém. A guerra ainda não acabou…
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